A vitória da cozinha sobre a pintura

Vejo estatísticas e estudos sobre o vício de internet, que as pessoas estão virando zumbis encurvados e míopes de tanto fazer sei lá o que nas redes. Não que eu seja dos velhos tempos (quem disser que sou, leva uma bengalada), mas sempre reservei algum tempo para algum hobby manual, para manter a habilidade nas mãos e a perspectiva espacial - um termo chique para dizer que você não vai derrubar nada enquanto se mexe e nem tentar colocar algo onde não cabe.

Antes de cozinhar, tentava pintar. O desenho e a perspectiva até que eu acertava direitinho, mas as cores começavam a brigar entre si mal eu encostava o pincel nelas. E aquele monte de tubinhos e vidrinhos? O que não cheirava forte, lambuzava tudo ao redor. Acumulavam-se montes de telas mal acabadas e manchas misteriosas por toda parte. Chegou uma hora que tive de parar com aquilo. D. Angelina conseguiu alguém para levar as telas restantes embora. Fiquei por um momento imaginando se iriam alegrar as paredes das casas de trabalhadores cansados de suas lides diárias, mas talvez tenham apenas feito uma grande fogueira de São João daquilo. Foram-se também os pincéis, tubos de tinta, espero que para algum futuro gênio da pintura ou futuro famoso designer.

Bom, foi assim que a cozinha passou a ser o meu hobby. Ao contrário das pinturas, a comida até certo grau de ruindade dá para ser consumida sem grandes problemas e deixa de ocupar espaço; de qualquer forma, só ficando em forma de lembrança rapidamente esquecida na próxima tentativa de melhoria. Ou seja, aprender com os erros passados; não deixá-los entulhar a vida ao seu redor.

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