Chope sem colarinho à la Normandie

Tirar chope sempre foi um desafio, mistério e desastre para mim. Mas pelo que percebi, não sou o único a fracassar nessa empreitada. Já vi até mesmo profissionais de estabelecimentos conceituados deixarem canecas descansarem por vários minutos para a espuma baixar ou jogarem fora a espuma da caneca e irem enchendo a caneca de novo até conseguirem algo como um colarinho decente. Pelo que vejo, poucos são os que dominam essa arte. Mas de repente, surgiu para mim a luz, na forma de um barril de cerveja belga.

Estava eu na festa de casamento de Pauline e Flávio na França quando fui tirar cerveja de um barril, tentando bravamente seguir as boas práticas recomendadas e deixar apenas um dedinho de colarinho em minha caneca. Fiquei lá no barril abrindo e fechando a torneirinha em diferentes ritmos, inclinando a caneca em diferentes ângulos e variando essa inclinação como um aprendiz de fazendeiro ordenhando uma vaca insolente, em uma vã tentativa de eliminar a turbulência de um fluxo de densidade espumosa em regime de escoamento desconhecido. Esforços em vão: pela centésima milionésima vez acabei desoladamente saindo com uma caneca cheia de espuma.

Felizmente fui salvo pelos meus novos amigos normandos - oriundos de uma região da França conhecida tanto por sua rica história quanto pela excelente culinária - que logo tiraram de minhas mãos aquele monte de espuma e providenciaram para mim uma caneca cheia de cerveja, com pouco colarinho - à moda da Normandia, como me disseram.

A técnica consiste simplesmente em algo bem diferente do que eu fazia:

1) abrir a torneirinha e deixar o líquido escorrer (claro que em algo como um balde) sem colocar a caneca embaixo;

2) ficar observando o fluxo que sai da torneira - e aí que está o truque - ele começa branco cor de espuma e depois de uns dois ou três segundos fica amarelo cor da cerveja, e só então;

3) você coloca a caneca embaixo, até enchê-la - até onde consigo me lembrar, não é nem necessário inclinar a caneca. Voilá, como mágica, não é criada espuma na caneca. À la Normandie.




Na verdade, tenho de lembrar a vocês que testemunhei essa técnica dar certo com uma cerveja belga, bastante encorpada. Como ainda tive a oportunidade de me deparar com um barril por aqui depois dessa ocasião, ainda não posso dar certeza absoluta de que essa técnica dará certo com o nosso chope, mais leve e proveniente de uma metade da Terra que faz o fluxo do líquido girar para o outro lado - embora tudo me leve a crer (e esperar) que sim. Aguardem notícias.


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