Quiabos - pela escolha tradicional

Houve um tempo em que quiabos eram vendidos soltos a granel. Nesse tempo, as pessoas paravam na banca, escolhiam um a um cada quiabo que levavam, testando seu lado pontudo. Se a ponta quebra, quiabo bom, se não quebra, quiabo ruim.

Mas isso acontecia nos tempos antigos. Agora os quiabos são vendidos em bandejas de isopor lacradas com filme plástico.

Aparentemente alguém olhou as pessoas quebrarem as pontas dos quiabos e pensou: “Essas pessoas levam os melhores quiabos e estragam os outros”. Esse desperdício tem que acabar.”. Talvez haja alguma outra explicação para essa mudança, mas não saberia dizer qual é.

Agora, cabe aqui uma observação: esta postagem é destinada a apresentar um problema e oferecer graciosamente subsídios a melhorias para consumidores, produtos e intermediários do nosso pujante agronegócio. Isso posto, vamos em frente.

O quiabo é uma fruta (já que tem sementes) que faz parte da cozinha tradicional do Brasil, só a lembrança de um bom frango com quiabo já faz a gente salivar. chega a sobrar no pé. Mas é de conhecimento geral que,  para fazer quiabo tem que saber fazer quiabo. Fazer quiabo não é lá muito fácil; o que já rendeu duas postagens aqui neste meu blog.

    Quiabo sem baba

    Quiabo no micro-ondas

 As pessoas que compram quiabo aprenderam a fazer o prato com a mãe ou avó, trouxeram esse conhecimento das cidades do interior. Como cozinheiros que querem manter as tradições de suas famílias, são pessoas exigentes - conheço algumas delas. Como pessoas exigentes que são, querem escolher por si mesmas os produtos que irão utilizar. Sabem o motivo?..

As pessoas que conhecem quiabo não testam a ponta para escolher os melhores - isso se chama começar por uma premissa falsa. Elas fazem isso para ver se o quiabo está próprio para consumo. Se a ponta do quiabo não quebrar, isso significa que ele está fibroso. Se está fibroso, não serve para o consumo e tem gosto ruim. Quem conhece quiabo e se depara com um desses, nem tenta cozinhá-lo, joga fora de cara.

Redimindo seus consumidores, portanto, esse processo de escolha aparentemente reprovável não causa desperdício algum, já que os quiabos fibrosos simplesmente nem deveriam chegar ao mercado. Sim, o quiabo fibroso já é fibroso no pé, não estraga no caminho até o mercado e nem dentro da bandeja. Deveriam ser descartados logo na produção, antes de causarem custos de frete e manipulação no supermercado.

Ou seja, se você vende quiabos fibrosos, está vendendo produtos impróprios para o consumo aos seus clientes, fazendo-os perder o dinheiro deles e gastando dinheiro para isso.

Então, você acaba tendo um exemplo perfeito de seleção adversa, na qual as poucas pessoas que consumiriam os seus produtos são levadas a desistir de comprá-los, Mesmo porque alguém que cozinha pode facilmente largar os quiabos para lá e escolher gastar o seu dinheiro em outros produtos, como jiló e berinjela - o que os economistas descreveriam como elasticidade cruzada de demanda de bens substitutos.

Ninguém ganha, os clientes não consomem os produtos bons para o consumo, o supermercado perde rapidamente os produtos não vendidos, comprando menos dos produtores, e ainda por cima gastando dinheiro com frete, bandejas de isopor e folhas plásticas, que além de tudo consomem recursos e poluem o meio ambiente.

À escolha (Photo by Neha Deshmukh from Unsplash)



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