Na verdade, a mentira e a incerteza
Em mais um passeio pelas veredas linguísticas enquanto a máquina de lavar louça faz o seu serviço na cozinha, lembro de um diálogo ouvido recentemente. Um cidadão começa a dizer: “Na verdade...”, e o outro corta: “Então quer dizer que o restante que você disse é mentira? Risos. Corta.
Há no mundo pessoas treinadas para perceber se estamos mentindo, mas posso afirmar com um grau razoável de certeza que elas não determinam se o que foi dito é verdade ou não com base em aspectos tão simples quanto as palavras usadas. Além de “na verdade...”, usamos em nosso cotidiano expressões como “eu penso que...”, “em minha opinião...” e outras do mesmo tipo, que não querem dizer que o restante do que tenhamos dito é mentira, que vá contra a nossa opinião ou que tenha sido dito de maneira impensada. Para resumir, a expressão “na verdade”, na verdade, simplesmente não tem essa função de distinguir a verdade da mentira no que se diz.
Se dissermos, por exemplo: “os alunos devem se levantar assim que o professor entre na sala”, expressamos algo que deve acontecer, em um tom até de ordem. Em “na verdade, os alunos devem se levantar assim que o professor entre na sala”, há um tom de opinião pessoal, na qual damos abertura para que os outros discutam a veracidade dessa afirmação. Pensando bem, nesse exemplo, a verdade mesmo seria mostrada sem palavras: alunos se levantando de suas carteiras assim que o professor entrasse na sala de aula, sem ninguém ter de dizer nada. Uma verdade bem verdadeira, aceita incondicionalmente por todos.
“Na verdade”, então, mostra justamente que não queremos impor nossa verdade individual como absoluta, mas sim dar a ela um certo grau de incerteza e deixá-la aberta à discussão. O que é sempre proveitoso: usando as expressões acima, nos mostramos dispostos ao diálogo, podendo ouvir a opinião dos outros e defender nossos pontos de vista para, aí sim, chegarmos todos a uma verdade aceita por todos, que talvez nem tenha mais de ser discutida dali para diante - e é justamente esse consenso nos leva em frente, para conseguirmos todos juntos o que queremos.
E a máquina (de lavar louça) continua a girar.
Há no mundo pessoas treinadas para perceber se estamos mentindo, mas posso afirmar com um grau razoável de certeza que elas não determinam se o que foi dito é verdade ou não com base em aspectos tão simples quanto as palavras usadas. Além de “na verdade...”, usamos em nosso cotidiano expressões como “eu penso que...”, “em minha opinião...” e outras do mesmo tipo, que não querem dizer que o restante do que tenhamos dito é mentira, que vá contra a nossa opinião ou que tenha sido dito de maneira impensada. Para resumir, a expressão “na verdade”, na verdade, simplesmente não tem essa função de distinguir a verdade da mentira no que se diz.
Se dissermos, por exemplo: “os alunos devem se levantar assim que o professor entre na sala”, expressamos algo que deve acontecer, em um tom até de ordem. Em “na verdade, os alunos devem se levantar assim que o professor entre na sala”, há um tom de opinião pessoal, na qual damos abertura para que os outros discutam a veracidade dessa afirmação. Pensando bem, nesse exemplo, a verdade mesmo seria mostrada sem palavras: alunos se levantando de suas carteiras assim que o professor entrasse na sala de aula, sem ninguém ter de dizer nada. Uma verdade bem verdadeira, aceita incondicionalmente por todos.
“Na verdade”, então, mostra justamente que não queremos impor nossa verdade individual como absoluta, mas sim dar a ela um certo grau de incerteza e deixá-la aberta à discussão. O que é sempre proveitoso: usando as expressões acima, nos mostramos dispostos ao diálogo, podendo ouvir a opinião dos outros e defender nossos pontos de vista para, aí sim, chegarmos todos a uma verdade aceita por todos, que talvez nem tenha mais de ser discutida dali para diante - e é justamente esse consenso nos leva em frente, para conseguirmos todos juntos o que queremos.
E a máquina (de lavar louça) continua a girar.
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