Velhinhas no caixa

Tenho por costume prestar atenção nas pessoas e personagens no mercado, como na postagem dos maridos mal humorados. Uma vez ou outra, vejo uma senhora chegar ao caixa (na minha frente, é óbvio) com um monte de compras e a primeira coisa que faz é mostrar o dinheiro que tem. Aí, a menina da caixa, em seus vinte anos, a ajuda a fazer as contas, perguntando o que ela vai ter mesmo de levar, quando insiste: “não, esse tem de ir”, e o que pode ficar para trás. Às vezes, fica comparando dois produtos com cara de dúvida para escolher o que vai levar.

Por muito tempo, vi nesse comportamento uma óbvia falta de dinheiro e uma vontade de relembrar os bons tempos, quando podiam encher o carrinho e comprar tudo o que quisessem. É algo para deixar a gente bem chateado. Em uma segunda interpretação, talvez mais romântica, fico imaginando uma realidade alternativa, na qual elas deixam a imaginação e a vontade correrem soltas nos corredores, colocando no carrinho tudo o que têm vontade, para tomar no caixa a decisão final, mais séria e responsável. Poderia ser também que isso seja alguma estratégia de processo decisório participativo.

Nem todo mundo percebe, mas essas velhinhas são muito sabidas e usam seu conhecimento acumulado sempre que podem – aliás, estão sempre lá para me ajudar na hora de escolher frutas, pelo que sou imensamente grato. Talvez tenham descoberto que os funcionários têm alguma informação interna sobre a qualidade dos produtos naquele dia – mostram o produto e ficam tentando descobrir algo pela expressão da moça no caixa – algo até lúdico, pois já descobri que as velhinhas tem capacidade de descobrir diversão em qualquer situação do dia a dia.

De qualquer maneira, o resultado final é que acabam por tomar o maior tempo na nossa frente na fila do caixa, mas, pensando bem, e daí? A vida pode ser curta demais ou longa demais, dependendo do jeito como você a vê.

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