Couve refogada

Outro componente essencial no universo do arroz e feijão é a couve. Couve soltinha, cortada fininha e refogada com cuidado. Abro aqui um parágrafo para registrar a receita de D. Angelina, que em suas feijoadas simplesmente rasgava as folhas com as mãos e as colocava para cozinhar junto da feijoada, quase quando ela já estava pronta. Fica gostoso, meio com cara de comida africana, para quem gosta de variar e ter um gostinho de outras culturas.

Fechando o parágrafo e voltando à couve refogada, tendo a couve cortadinha, fica fácil. Lavo as fatias em água e as deixo um pouco molhadas – costumo usar o escorredor de macarrão para isso. Em uma caçarola de tamanho médio, refogo um dente pequeno de alho em azeite e, quando o alho começar a ficar marrom, coloco o tufo de couve fatiada. Vou mexendo com os hashis, para refogar por igual e acerto o sal. Não deixo a couve refogar e nem secar demais; alguns minutos já são suficientes.

Como vocês devem imaginar, o que pega aqui é o tal de “cortadinha”. Onde você tem duas opções: comprar uma bandeja de couve já fatiada ou comprar um pé de couve e cortar as fatias na mão. A vantagem da bandejinha é óbvia: vai lhe poupar um monte de trabalho, o que vale o seu preço mais alto. Com as desvantagens de você não saber como estava a folha antes, de perder qualidade, já que a couve é bastante perecível e de às vezes as fatias de couve já virem um pouco amassadas.

Já comprando o pé de couve, você pode escolher o pé com as folhas mais novas, evitar os pulgões (pontos pretos bem pequenininhos na folha, comuns em épocas de muita chuva) e descartar partes da folha comidas por insetos e outras imperfeições. Mas cortar couve fininha na mão exige atenção e técnica. Uma folha de couve por vez, das folhas maiores para as menores, você tem de pegar cada folha lavada, fazer um corte em V ao longo do talo e cortar fora as imperfeições. Após retirar todos os talos, junte todas as pontas do V e as dobre para cima, formando uma trouxinha; depois enrole firmemente (com força mesmo) essa trouxinha de um lado a outro. Aí pegue uma faca bem afiada e, cuidadosamente, fatie esse rolo de couve o mais finamente possível.

Se um dia der certo, faço um álbum de fotos passo a passo dessa técnica. Dá muito trabalho e exige muita paciência para não começar a cortar fatias grossas do meio para o final. Obviamente quem inventou essa técnica tem uma concepção de tempo diferente daquela de quem vive nas cidades.

Pesando tudo, inclusive o fato de eu gostar muito de couve, normalmente decido comprar a bandejinha mesmo. Terceirizar às vezes não quer dizer ter a certeza de que terceiro vai fazer melhor do que você faria, e sim que você vai terceirizar porque não tem tempo ou condições para fazer você mesmo e vai ter de acreditar no trabalho do outro. É quase um exercício de fé.

    Veja mais: Vegetarianas e veganas

Comentários

Postagens mais visitadas