A faca mal amolada

Como nunca trabalhei em fazenda e nem servi ao Exército, não tinha muita experiência com facas. Por exemplo, para mim, as facas tinham corte eterno. Ou seja, em sendo faca, tinha por obrigação cortar bem. Quando a gente não usa alguma coisa, não presta atenção nela e nem acha que precisa de manutenção. E quando usa e não presta atenção, também não percebe que precisa de manutenção.

Algo paradoxal é que a faca mal cuidada pode ser mais perigosa do que a com corte perfeito e implacável. O fio vai desgastando com o uso; um dia a faca resvala em algo durante o corte e vai direto para o seu dedo. A faca mal amolada também deixa machucadas as folhas mais delicadas, como a do manjericão. Em situações delicadas, é necessário fazer cortes cirúrgicos de uma vez só – aliás, um ponto no qual o grande samurai Miyamoto Musashi muito insistiu: “cortar, não talhar” – embora não estivesse falando propriamente de frutas e legumes.

Ademais, como nunca havia prestado atenção em facas, as que comprei também não são das melhores. Tenho que afiá-las constantemente para ter um corte aceitável; às vezes, tenho a impressão que elas estão melhorando com as inúmeras afiações, outras vezes, acho que deveria comprar logo um jogo de facas boas, mas com aquele cepo de madeira para proteger-lhes o fio contra batidas. Enquanto não dá para fazer tudo certinho e ter as melhores ferramentas desde o início, a gente faz o que pode com aquilo que tem.

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