Croissant instantâneo

A receita do croissant é uma das coisas mais complicadas que já vi na vida. É dobrar a massa e colocar na geladeira várias vezes, por várias horas, o que deve levar o dia todo, coisa de profissional. Então se quero um croissant, compro um na padaria e a questão está resolvida. Mas, na correria da semana, às vezes é difícil até mesmo comprar o pão normal. Aí, na hora da fome, temos de improvisar. Muitas vezes, o que sai é o que chamo de “croissant instantâneo".

Sempre acaba sobrando algum pãozinho francês amanhecido, quase passando para a fase de “pão duro”. É só cortar no sentido longitudinal, também conhecido como “de comprido”, passar uma camada generosa de margarina e colocar na frigideira quente. Quando o pão esquentar, aperte as metades do pão contra a frigideira; elas vão começar a ceder, pois a gordura da margarina amolece o pão. Assim que o lado com a margarina estiver dourado, até quase o ponto de queimar, e as metades do pão estiverem quase da espessura de um dedo, tire da frigideira. Deixe esfriar alguns segundos em um prato. A margarina vai umedecer o pão e formar uma crosta no lado com a margarina.

Aí alguém vai dizer: “Mauro, isso é pão na chapa...”, mas oras, o nome é mais marca fantasia do que descrição científica, como muitas vezes acontece no mercado. Depois, acho que não seja exatamente um pão na chapa, por ser mais lambuzado e feito com pão amanhecido, quase duro (ótima propaganda, hein?). Bom, tá certo, não é exatamente um croissant... Por isso mesmo, chamei de “croissant instantâneo”, algo entre o pão francês (brasileiro) e o croissant francês (francês mesmo).

Fica gostoso, mas por pouco tempo, como diria Andy Warhol, uma celebridade instantânea com cinco minutos de fama que ajudam a matar a fome de um solitário. Depois desse breve período de glória, é bom esquecer, que vira uma coisa dura e engordurada. Obviamente que isso não é culpa do pãozinho, e sim de nossa fome constante e imperiosa por algo novo e gostoso, não necessariamente duradouro, complexo ou de grande profundidade filosófica. Algo a ser consumido rapidamente quando não houver algo melhor à vista e a gente não estiver disposto a investir muito tempo em uma preparação elaborada. E se esse nome fizer sucesso um dia, lembrem-se de que fui eu que o inventei (até prova em contrário).

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